domingo, abril 10, 2005

Minha Arte

Não costumo postar poesias de outros autores.. mas vou abrir uma exceção para a Amanda. Gostei de algumas poesias dela, em especial esta que aí está (também é uma "homenagem" a ela e seu jeito de escrever, aparentemente direto, mas extremamente denso, profundo, sincero.)

MINHA ARTE


“Ser artista é expressar idéias e sentimentos”
Mas por que expressar sentimentos à pessoas que não os sentem
Da maneira que sentimos?
Se sentem coisa que são resultados da indiferença
Se sentem coisas que são resultado do individualismo
Se sentem coisas que são resultado do conforto
Se sentem coisas que são resultado da mesa que sobra

E mentem os homens, uma constante, expressando vontades
Fingindo emoção
Arrancando sustento do que dizem arte

Porém eu me expresso por necessidade
E quando o vômito me vem a boca
Pego o lápis, entre tanto outros objetos que poderia pegar
Por causa da insatisfação
Da revolta de tudo que eu e outros engolimos, além do vômito.

Não precisará muitos minutos para surgir
Lembrar da rua, do homem, da política
Da palavra, do silêncio, do grito
Do sangue da bioneta
Da madame, da lavadeira
Da mansão, da ponte, ....

E isso será arte?
Pode ser possível arrancar sustento, mas
Nem todos estão interessados no meu poema,
Muitos já tem a própria vida, e nela
O seu constrangimento.

Sinto que minha arte não é suficiente
Para comprarem minha utopia,
Porque ela não é lucrativa
E sim destituída de conceitos estéticos.
Não é feia, nem bonita
Não se propõe a ser esquecimento
Abrandamento
O que eu proponho, com ela, é a não fuga
Eu escrevo para não enlouquecer!

Mas você pode jogar meu poema pela janela
Se não gostar
Eu também joguei muitos
Eu faço poema da indignação, da revolta, da dor
Meu poema você lê no jornal
Você vê na rua
E pode lê-lo no partido
No seu sindicato
Ele pode não cair com o muro
Pode existir a cada lata de alumínio

A cada papel no chão
A cada qualquer coisa que exista porque teve motivo para existir
Ou a cada qualquer coisa que exista, mesmo que por acaso
Que é fruto do motivo.

Indefinido, desrespeitado ao acaso
Como o próprio homem
Descartável
Depois da fábrica,
Depois do consumo,
Antes dos 14 anos e depois dos 65 anos
Como meu pai, minha mãe
E os seus


Mas você pode jogar meu poema pela janela
Afinal ele pode não ser
Um poema para você
É triste e mal humorado
Tenta parecer com o homem ansioso
Pelo sinal do final do expediente

Gostando ou não ficará na sua memória
Porque mesmo queimado
Meu poema está além deste papel
Mais cedo ou mais tarde
Alguma coisa lhe fará lembrar dele

Talvez o sinal
Talvez o revólver na sua cabeça
Talvez a bala perdida ...

Porque ele é presente, e poderá ser qualquer coisa
O gari, o bancário, o professor, o pivete
Meu poema pode não morrer, porém eu morrerei
Em parte
Meu filho, meu neto e os seus
Farão outro poema real.

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