segunda-feira, novembro 04, 2013

Descobrindo o “rei do camarote” que existe em nós

O video produzido pela Veja SP, no qual a estrela é um empresário que gasta muito dinheiro em noitadas está fazendo grande sucesso na internet. O personagem em questão compra bastante champanhe com preços elevados (e com uma vela de aniversário ridícula). Tem na ostentação sua “forma de ser” na noite. Além disso, seu estilo caricato, seu exagero e vocabulário limitados fazem com que chame ainda mais atenção. Entretanto, até que ponto o ele é regra e não exceção?

Nossa sociedade tem como um dos pilares fundamentais a demonstração de acúmulo de riqueza. Seja através de bens de consumo (carros, roupas, viagens), ou pelas “companhias” (fazer parte de certos grupos sociais), o fundamental é ser alguém “importante”. As celebridades instantâneas dos Big Brothers, Casa dos Artistas, A Fazenda; atores, atrizes e modelos e seus concursos de beleza.

Em certo sentido, todos nós, numa proporção maior ou menor, carregamos as marcas da sociedade em que vivemos, e de forma contraditória, reproduzimos seus valores. Também ri vendo o vídeo do “rei dos camarotes”, e em certos momentos, achei extremamente patético. Mas precisamos olhar a nossa volta, e tentar entender porque este tipo de pessoa existe. Talvez ele seja apenas uma demonstração clara de um padrão dominante.

No filme “Os idiotas”, de Lars Von Trier, um grupo de amigos busca formar uma sociedade a parte, dedicada a explorar todos os aspectos da idiotice como valor de vida. Aqui a referência é a idiotia, ao retardo mental real, e não ao adjetivo “idiota” (sinônimo de imbecil, irrelevante, sem conhecimento). O objetivo seria questionar a sociedade buscando o “idiota que existe dentro de você”. Com um final surpreendente, roteiro inusitado e filmagem com câmera de mão, o filme foi marco do nascimento de um movimento o “Dogma 95”, que acabou por render importantes frutos e questionamentos nos rumos do cinema no final da década de 1990.

Temos que criticar os exageros, rir do que é inusitado, mas também perceber nossa imagem ao espelho. São muitos (talvez maioria?) que nas noites e afazeres cotidianos tem um “rei do camarote” em potencial guardado em seu ego, aflorando aqui e acolá. No filme, os idiotas tentam questionar pela estética um mundo sem sentido aparente. Na vida real, a aparência nos torna “imbecis”, e ao rir dos outros, precisamos singelamente olhar um pouco mais para o que somos. Seja o nosso guarda roupa, a música que gostamos ou o padrão de beleza que valorizamos.

Qual é o “champanhe” da matinê dos seus sonhos? Olhei para o meu, e confesso, ainda tenho muito a mudar por aqui. Ou, quem sabe, trocar por vodka mesmo.

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