quinta-feira, novembro 07, 2013

Entre Beagles e Black Block’s: a vida como uma novela das oito

Não tenho conhecimento, do ponto de vista estritamente “cientifico”, para afirmar que as pesquisas com Beagles são totalmente sem sentido. Aparentemente, é uma forma barata e lucrativa de se realizar testes, que provavelmente teriam seus custos elevados caso respeitassem o bem estar animal. Acredito que, por principio, devemos ter uma relação harmoniosa com a natureza e todos os outros seres como parte de nossa existência. Entretanto, não é estranho ou mesmo inesperado que os Beagles, pela sua estética e por serem cães, terem maior repercussão em testes do que outros mamíferos, como coelhos e ratos, mas esta diferenciação demonstra um pouco como a sociedade em geral pode “selecionar” aqueles que devem ser tratados como próximos, e aqueles que não, tendo em vista sua “função social”. Os Beagles parecem ter uma função social, (parte de “nós”), enquanto os outros mamíferos, por terem outros papeis na relação com o homem, são “desprezíveis”. Esta é uma pauta quase consensual na mídia grande, pois tem amplo apelo dramático. A visão da vida como uma grande novela, com suas performances e atores, fazem da pauta dos Beagles, com músicas de piano ao fundo, um momento de posicionamento desta mídia grande: “olhem, eles realmente pode estar sendo maltratados, temos que prestar atenção nisso”. 
Já os Black Blocks, tem reação oposta, mas essa continua dentro da lógica geral da “pauta dramática”. Os elementos estão lá: fogo, destruição, conflito, máscaras. A estética do espetáculo. E, ao contrário dos Beagles, não são parte de “nós”. São eles, que atuam de forma irracional, como animais que matam uma presa para saciar sua fome. Não defendo a atuação dos Black Blocks como forma de militância pura e simples, mas tenho clareza que sua existência ocorre como reação à violência estatal. Cessada a violência de classe, não existiriam mais “Black Blocks”. Exatamente por estar colocada, de forma subtendida, uma reação ou não a conflitos sociais mais gerais, criminalizar os Blacks Blocks é tão importante. E do foco a um grupo, se criminaliza o todo. 
Uma manchete poderia ser escrita como “Vândalos destroem centro de pesquisa e roubam cães, que se encontram em paradeiro indefinido”, ou “Devido a violência policial, ativistas resistem”. Depende de quem escreve a matéria. E de quem lê. Mas a vida, por ser novela, não pressupõe leitura, apenas drama e lágrimas. Depois de chorar e rir, voltemos ao trabalho e a viver como potenciais personagens de uma novela fictícia em busca do final feliz.

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