segunda-feira, abril 28, 2014

Junho e a mídia corporativa

As manifestações de junho arranharam a hegemonia burguesa no Brasil. Não cindiram essa hegemonia, ou mesmo existiu uma crise dela, mas as manifestações modificaram alguns consensos existentes, colocando um novo “senso comum” na arena da luta de classes. Dentre eles, podemos destacar: 1) O brasileiro também luta, não é um povo apático e passivo que aceita qualquer coisa de seus governantes; 2) Mobilização social é algo legítimo, fazer manifestações é algo justo; 3) É possível vencer, pois abaixamos a tarifa e demonstramos que a luta pode mudar os rumos da história.
 Outros “senso-comuns”, ou críticas ao senso comum se colocaram, mas não se tornaram, ainda, parte de um consenso estabelecido que deva ser abarcado pelos dominantes: 1)A imprensa não é neutra, ela tem lado e em geral se posiciona contra os interesses da população; 2)A polícia militar deve ser superada, por ser uma instituição que atua de forma repressiva contra os interesses da maioria. Os consensos ainda seriam 1) A imprensa é neutra e defende de forma isenta o melhor para todos; 2) A política militar, apesar dos problemas, é necessária.
Os primeiros três pontos elencados são novos consensos estabelecidos. Os dois seguintes são críticas ao consenso estabelecido, mas que ainda não se tornaram um novo senso comum. Sobre esses pontos, o senso comum atual ainda abarca e mantém o consenso anterior às manifestações.
A criação de novos consensos, especialmente os que fortalecem a auto-organização “dos de baixo” é um dos marcos fundamentais da disputa de hegemonia, como também do papel de direção dos dominantes. Para as classes dominantes, não basta exercer o controle e a coerção, é necessário dirigir intelectual e politicamente os dominados, o que só é possível a partir de certos consensos estabelecidos a seu favor. Para manter o domínio, é necessário direcionar os novos consensos a seu favor, mesmo que são contrários aos seus interesses, colocando-os de forma subordinada ao seu programa estratégico, de classe.
O que está ocorrendo neste momento é uma tentativa, por parte de partidos e aparelhos privados de hegemonia das classes dominantes, especialmente a mídia corporativa, de modificar os novo consensos estabelecidos após junho, e “limpar” o possível dano aos consensos que foram atingidos. Ou seja, reestabelecer os marcos da hegemonia burguesa anterior às manifestações. Entretanto, a luta de classe não é linear: só é possível construir novos consensos avançando, criando uma nova correlação de forças, e caso os novos consensos estabelecidos fossem derrotados, a direção intelectual e moral dos dominantes seria reestabelecida num novo patamar, que ampliaria sua capacidade de coerção.
A movimentação dos dominantes ocorreu devido a certa “quebra” ou “descuido” de parte dos dominados (que pode ocorrer a partir de um ato fortuito), que desorganizou as “tropas” de seus inimigos. Com a tropa inimiga (dominados) desorganizada, apareceu uma nova chance para que se utilizasse de forma eficaz toda a “artilharia”, a qual abriria espaço para se tomar sua trincheira. A artilharia não tem pode atuar eternamente, assim sua utilização, para ser mais eficaz, deve ser pautada por momentos oportunos, mesmo que seja necessário a criação dessa oportunidade através dos movimentos mais gerais. Destruindo e tomando as novas trincheiras inimigas, seria possível “cercar” suas casamatas e fortalezas. Neste caso, as trincheiras inimigas são os novos consensos estabelecidos e às críticas que avançaram; as casamatas são as mobilizações (auto-organização da classe) e o PSOL. Ao utilizar a artilharia, as casamatas são atingidas, mesmo que não destruídas. Uma artilharia extremamente forte poderia destruir uma casamata, mas isto não é provável, já que se assim fosse, a casamata sequer existiria, na medida em que a artilharia poderia ter sido usada anteriormente para destruí-la antes mesmo da sua construção.
É difícil atuar sob fogo inimigo, especialmente quando a tropa está desunida por algum motivo. Encontramo-nos neste momento. Entretanto, apenas tentar unir a tropa e esperar o tiro inimigo não basta, é necessário demonstrar que também temos nossa artilharia, e que nossas trincheiras estão fortes, e nossas casamatas foram pouco atingidas.
Logo, precisamos além defender nossas casamatas (as grandes manifestações e o PSOL, e dentre desses seus mandatos e militantes que foram atingidos), também atirar no inimigo, reagir, para que ele não fique tão tranquilo e organizado para atirar ainda mais. É necessário demonstrar a contradição de diversos discursos que são as balas da artilharia, como “quem financia quem”, “quem manipula quem”, “a quem serve a mídia corporativa”, “qual é o papel da polícia nas manifestações”, dentre outros. Atacar a ideia e quem difunde a ideia (O GLOBO, VEJA, O DIA, etc). Defender-se é a prioridade, mas não é possível uma defesa numa guerra sem balas que atinjam o inimigo.

Não é possível definir ao certo o que sairá deste confronto, pois ainda estamos no meio dele. Mas já é possível definir que a arena foi modificada, e que devido à nova movimentação das tropas e das artilharias, os novos consensos necessários terão um novo paradigma, mais polarizado. A crença na “estabilidade da ordem”, própria da visão reformista, perderá espaço, tendo em vista que a própria luta de classes será cada vez mais dinâmica, pois o lado de lá não pode apenar manter sua tropa e utilizar novas trincheiras e casamatas (como o PT), já que novas casamatas foram construídas do lado de cá. É um momento de polarização, e a partir dele, aproximar-se do PSOL, mesmo que através do voto, será cada vez mais visto como uma tomada de posição, de aproximação de certa casamata, que foi atacada pelo inimigo e, por isso, está mais a vista para todos. 

Nenhum comentário: