segunda-feira, abril 28, 2014

Sobre bandeiras e partidos nos movimentos de massa

Os movimentos de massa tem uma dinâmica própria, de difícil compreensão em curto espaço de tempo. Um dos nossos guias para entendermos esses movimentos são os aprendizados históricos, sejam de nosso país, sejam de outras experiências em curso.
A traição do PT despolitizou a política. Ao contrário da ditadura militar, onde os partidos eram forjados “por cima” (MDBxARENA), e que o movimento contra a ditadura tomava corpo na construção de novos partidos, hoje estamos numa “democracia burguesa” (uma “democracia de araque”, “falsa democracia” ou qualquer outro termo também é bem-vindo). Assim, a luta do PT pelas diretas já ocorreu em conjunto com a sociedade civil, que abraçou, em grande medida, a causa de “um partido sem patrões”. Hoje estamos noutra conjuntura.
Esta nova conjuntura de traição de classe do PT não fez apenas com que a esquerda perdesse espaço: a própria política perdeu espaço, e com ela, um questionamento amplo no senso-comum sobre a necessidade ou não de partidos. Existe um senso comum contra os partidos, e é nesta realidade que estamos imersos:
“A espontaneidade é característica da história das classes que ocupam um lugar subalterno na sociedade e, como tal, é condicionada pela ideologia da classe dominante. Logo, a ação espontânea das massas resulta da mistura desordenada, desarticulada de elementos ideológicos da classe dominante com concepções oriundas das próprias da própria vida das massas, a nível de bom senso. É, portanto, uma ação fundada no senso comum enquanto concepção de mundo fragmentária, dispersa e incoerente, difundida no interior das classes subalternas”

Estes elementos difusos que se relacionam ( como nacionalismo/bandeira do Brasil, rejeição aos governos, rejeição a repressão, “não a depredação”, “não aos partidos políticos”) são o caldo ideológico de manifestações espontâneas de massa, e que refletem o atual nível da consciência das classes subalternas. É neste terreno que estamos nos movimentando.


Levando isto em consideração, é importante uma ressalva: grandes mobilizações foram feitas sem a presença de bandeiras partidárias, o que não necessariamente demonstra  que elas “não nos servem”. Revoluções foram feitas sem a presença de bandeiras de partidos. Ou seja, temos que perceber este senso-comum, e atuar nele de forma coordenada, para daí extrair um “bom senso”:

“O núcleo do bom senso, no interior dessa concepção de mundo dispersa do senso comum, expressa o mínimo de reflexão própria das massas nos seus movimentos espontâneos, configurando um esboço de pensamento particular, próprio que precisa ser articulado, unificado, através do elemento de direção”

Precisamos trabalhar, de forma pedagógica, de que o pertencimento ou não a partidos é uma escolha pessoal (inclusive é um direito). Mas distribuir centenas de bandeiras partidárias numa manifestação deste tipo, de forma coordenada, “agride” este senso comum, que se revolta, e dele “cospe” seus fatores mais reacionários, através da queima das bandeiras, agressões. Para este senso-comum, seu direito “individual” de não escolher partidos está sendo cerceado, pois em seu mundo imaginário, não deveriam existir partidos.

O processo de politização é longo. A maioria dos membros das passeatas atuais não é anticapitalista, muito menos tem simpatia por este ou aquele partido socialista.  Com o tempo, quando estas revoltas acabarem, estaremos num outro processo de luta, e aos poucos, com maior politização. Mas até lá temos que dialogar para construção deste bom senso.

E muitos anticapitalistas usaram bandeiras da Turquia, uma pátria com um nacionalismo bem complexo, que até hoje detém símbolos islâmicos como marco. Ou bandeiras do Egito, Tunísia, Síria...

Obviamente, preferíamos de uma bandeira nacional que estive escrito “Justiça Social” ao invés de “Ordem e Progresso”. Este é um segundo momento de debate, de diálogo com este senso comum.

Ou seja, não precisamos deflagrar dezenas de bandeiras dos nossos partidos nas passeatas. Nossa bandeira é a luta anticapitalista, e não existe nada mais anticapitalista que mobilizações de massa. Os participantes mais conscientes aos poucos perceberão que para ocorrer uma transformação profunda na sociedade é necessário um programa, e uma organização que lute pela sua efetivação, e poderão (ou não) se aproximar de algum partido. Até lá dialogaremos, e questionaremos todos e todas que queimem as bandeiras dos outros, como um ato extremamente antidemocrático. Mas nosso papel, como socialistas, é entender a conjuntura e atuar nela para que mude. A realidade é o nosso guia para a ação. E nossas bandeiras, e lemas, estarão em nossos corações, pulsando vermelhos como sempre.








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